Inspirado pelo Exmo. Senhor LM, reproduzo cá em baixo um ensaio escrito com fins educativos e dedicado a todos os zero leitores que acumulei até agora.
***
E assim despedimo-nos, à grande e à francesa, dos primeiros anos do milénio. Agora é que está na hora, com os ecos da farra ainda a retumbarem nos ouvidos, de reflectir sobre todos os bens que as divindades e o incansável progresso humano nos conferiram durante os últimos 3650 dias (ignorando por preguiça os anos bissextos). Alguns dos nossos desventurados leitores até precisam de um bocado de animação para tornar mais alegre a aplicação de emplastros e terapias intravenosas nos olhos e mãos perdidos por um foguete na passagem de ano. A vida sem um órgão ou extremidade essencial é uma maçada, mas não desesperem! Os avanços da ciência e da medicina já permitem toda a classe de milagres, como bem podem afirmar as mulheres de silicone que não deixam de ter muita procura no mundinho da moda. Mas como são raros os leitores que estejam à procura da melhor forma de recuperar os apêndices e ao mesmo tempo de aumentar o tamanho dos seios, deixemo-nos já destas coisas tristes e passemos ao que é o tema deste pequeno comentário: a inovação no nosso século XXI.
Eu digo: os primeiros anos do século foram uma bênção para o mundo no que às novas tecnologias diz respeito. Mas as imagens do mundo via satélite, as compras na Internet com entrega ao domicílio de tudo desde os móveis da casa até à galinha para o caldo (morta já, pois a gente orgulhosa da cidade não vai sujar a mãozinha com esta porcaria de degolar o seu jantar), o primeiro coração artificial que funciona e os implantes de retina que tornam a vista possível para os cegos, o mapeamento do genoma humano, epá, todos eles não passam de pequenezes de segunda quando comparados com o que realmente revolucionou o dia-a-dia no século XXI. Talvez não conseguíssemos obliterar a fome no mundo ou achar uma terapia efectiva no combate ao SIDA (além de ter o bom senso de confraternizar com a camisinha). Mas com o fim de resgatar esta década da infâmia, eu cá proponho a seguinte amostra dos objectos e conceitos que mudaram o mundo em que vivemos.
Começamos sem grande estardalhaço, com algo que agrada a todos, aquela mais descarada perda de tempo de sempre que se chama o videojogo. Ressalto que o futuro pertence às crianças de hoje, preparadas com esmero para aturarem qualquer desgosto na vida real, que não lhes há-de parecer tão temível depois de ter aguentado corajosamente o banho de sangue no seu First-Person Shooter ultra-realista. Sim senhor. É também nesta década que floresceram algumas das ideias mais geniais no campo dos videojogos: é notável esta revolução ter começado com uma simulação completa da vida, desde o nascimento até à morte. Aquele jogo, The Sims, deixou inútil a grande chatice da vida não-digital e acabou por ser uma válvula de escape para os que não tinham sido agraciados com o prazer de possuir uma personalidade. Mas isto grande novidade não é. Os miúdos de hoje em dia têm mais hipóteses para se entreter. Graças ao Wii, a consola que esmagou os concorrentes, podem fingir praticar desporto fazendo trejeitos epilépticos com o telecomando na mão. Ou até podem fingir tocar a guitarra como uma estrela de rock, sem sequer sair de casa, com um daqueles guitarrões de plástico com teclas em vez de cordas. Reverenciam aqueles aparelhos por serem muito propícios para o seu look de rebeldes. A tecnologia permitiu-lhes serem os senhores do porão de papá, onde tocam gozando com a sua irreverência, quebrada só às vezes para devorar o jantarzinho trazido por mamã.
Grandes progressos fizeram-se também no transporte público. Eu lembro-me da euforia doida que me suscitaram os primeiros – e únicos – patins em linha de nova geração que me presentearam os meus pais. Na verdade eram uns ténis com solas que pesavam uma tonelada porque havia umas rodas lá dentro. O efeito era semelhante ao que devem sentir os mafiosos quando Dom Fulano Corleone decide que sobram e manda-os tomar um banho ao pé do cais com dois blocos de cimento a segurar as pernas. Mas no momento de armar aquele trem de aterragem, apesar dos desconfortos, tudo valia o olhar invejoso dos gajos do bairro. Ora, estes mesmos gajos do bairro cresceram, saíram da asa da galinha e foram dos primeiros snobes que correram em debandada quando apareceu o Segway. Conhecem o Segway? Não conhecem, aposto. Se não conhecem, será pela mesma razão que não conhecem os ténis com rodas: aquilo dá vergonha. A ideia era de vender milhões destes veículos de mobilidade urbana que em 2001 haviam de fazer tremer o mercado dos automóveis tradicionais. Predizia-se uma venda aos milhões. Venderam-se 30,000. É capaz de ser porque um senhor a deslocar-se numa destas maravilhas se parece muito com Papa-Léguas. E pior ainda se vai de gravata, fato e casacão a agitar-se no vento. Pelo jeito, ninguém gostava de ser Batman.
Ninguém duvida, porém, que o Segway foi um grande passo adiante no meio dos polícias, que deslizam silenciosos pelos espaços abertos dos supermercados a plantar as sementes do terror nos corações dos ladrões. Mas a máquina só acertou num nicho bastante reduzido. Uma outra novidade que sim desencadeou uma revolução social do caramba: as sandalias Crocs. A sua inovação consiste, por ordem de importância, em serem tamancos de plástico, em ferirem os olhos do espectador que os contempla, em causarem hilaridade durante qualquer evento público, em parecerem (pelo que dizem, que eu não o vejo) dentes de crocodilo e em os originais custarem um dinheirão. Mas eu até pagava um dinheirão para ficar com um bom cacareco de plástico, e ainda mais se se trata duma das grandes invenções do século, conquanto fosse um dos poucos a desafiarem a moda. Mas nos pés de milhões de pessoas, os Crocs terminam por ressaltar um importante problema social: revela a extraordinária estupidez das massas.
Mas enfim, esta pequena amostra é só a ponta do icebergue. A abundância das inovações úteis concebidas nos últimos anos parece não ter fim: é inquestionável a utilidade do capacete de protecção com bandejinhas laterais para encaixar duas latas com palhinhas para sorver um bocado de refrigerante enquanto se faz outra coisa. São igualmente incontestáveis os benefícios sanitários do taco de golfe propositadamente oco para servir de latrina de emergência quando um golfista tem a súbita necessidade de fazer xixi. Aliás, foi também só neste século que se inventou o sanduíche de 1,500 calorias capaz de dar um infarto relâmpago a quem o contemplar, o que pode ser de grande utilidade para controlar a população mundial. Enfim, é verdade que esta importante tradição de excelência que se criou nos anos zero promete-nos mundos e fundos. Mas considerado este deslumbrante progresso em que nos encontramos, é certo que vai dar para ir muito longe.
Sunday, January 31, 2010
Sunday, January 10, 2010
Meanderings & Motivation
Penelope Trunk wrote in the Brazen Careerist that maintaining a blog is hard work. Takes dedication and more than a little motivation to send duck calls that no one is likely to read out into the world. And I'm not sure if the purpose of a blog is to have as many people following you as possible. Apart from a one-post domain of blackness I started and set aside while depressed in Portugal, I'm new to this game. But since I'm not a brazen careerist and do not consider this to be a popularity contest, I'll go the traditional way for the time being and look at it as an online notebook. Some time ago a self-confident former academic gave the quirky UMCS university crowd a lecture on various things, most notably his life. Though his self-confessed proficiency in Portuguese (gained through - invaluable tip - total immersion) is highly doubtful, he did mention the value of writing down thoughts every day. And dammit, that's what we do. Your blog is your diary. Your blog is your resume. Your blog is your escapist fantasy. It's whatever you want it to be. The only condition, to my eyes, is that you be sincere. Once you're a famed blogger, you can start thinking about lying to your masses or throwing publicity stunts. But on a small scale, this is an exercise in self-discovery.
And it's probably a more useful waste of time than Facebook.
And so there are some things about me I want to say to me.
The primary concern in my life is leaving this city. It doesn't help that my university studies fail to give me the kick of inspiration that certainly comes when you know that you're gaining access to priceless knowledge. The languages I study interest me insofar as they are practical, but I am neither decided on what I will choose them to be practical for nor am I in the least bit inclined to get down on my knees and accept the fate of a godforsaken linguist the higher-ups are forcing you to take. They slap you around and think they can mold you like hot wax. Not likely. If I do fall into the disillusioned student category, it's because there's much to be disillusioned by.
But I digress.
A necessary evil. That's what it is. It has to be swallowed down to make room for bigger and better things. Sometimes my natural impatience gets the better of me. Sometimes I feel paranoid because the whole combination of factors in the last few years left much to be desired, and in the long run led to a little slimming-down to bone level, not to mention those exciting meetings with Portuguese psychologists and those equally exciting antidepressants that inexplicably failed to trigger much of an effect. Tuneluz, they were called. Fluoxetine. Other problems and much hilarity ensued. One such problem was - I believe - a sort of lexical anhedonia (don't worry, no one else has ever heard of it either) which made most reading feel like a relaxing day on the torture rack, with thoughts running the gamut from the inability to concentrate on a sentence to feeling unable to extract deeper meaning, and to reaching the conclusion that the world in all its simplicity and complexity is way too complicated for me to understand the way things run. Plus there was the nagging feeling that I'm not able to grasp or remember the totality of what I'm reading. That and the inability to make it known to those who wouldn't understand drove me further into it. Shall I leave unanswered the question of whether I used my scholarship in Portugal to the fullest?
Other neat psychological distortions are to be described in another joyous post.
One final thought, and it's about love. Two days ago, I was given a rotund all-around slap-around when I found out out of the blue that a close friend of mine had started to have feelings for me. This came out in a confrontation that I was expecting to be a series of complaints on how irresponsible I am as a friend who takes ages to answer a simple message and makes empty promises. Instead, I got a slice of another cake. I never did feel more than a strong bond of friendship between us, and never picked up on the waves she said she was sending. My waves she misinterpreted. This was the first situation of the kind in years, and I don't remember myself ever being the actual rejector. I didn't go through it like a smooth-talking Hugh Grant in another ho-hum rom-com. More like a one-eyed rhino stumbling in a drunken stupor through a corridor gallery of priceless china. But it did end positively, as I knew it would, and I don't expect any particular awkward situations in the future. Didn't help me being puzzled by my indifference and lack of any strong emotional reaction following the encounter. On the one hand, that could point towards a disconcerting lack of emotion. But since I'm no longer suicidal, I prefer to attribute it to something entirely different: adulthood.
Good or bad, it's a fact of life.
And it's probably a more useful waste of time than Facebook.
And so there are some things about me I want to say to me.
The primary concern in my life is leaving this city. It doesn't help that my university studies fail to give me the kick of inspiration that certainly comes when you know that you're gaining access to priceless knowledge. The languages I study interest me insofar as they are practical, but I am neither decided on what I will choose them to be practical for nor am I in the least bit inclined to get down on my knees and accept the fate of a godforsaken linguist the higher-ups are forcing you to take. They slap you around and think they can mold you like hot wax. Not likely. If I do fall into the disillusioned student category, it's because there's much to be disillusioned by.
But I digress.
A necessary evil. That's what it is. It has to be swallowed down to make room for bigger and better things. Sometimes my natural impatience gets the better of me. Sometimes I feel paranoid because the whole combination of factors in the last few years left much to be desired, and in the long run led to a little slimming-down to bone level, not to mention those exciting meetings with Portuguese psychologists and those equally exciting antidepressants that inexplicably failed to trigger much of an effect. Tuneluz, they were called. Fluoxetine. Other problems and much hilarity ensued. One such problem was - I believe - a sort of lexical anhedonia (don't worry, no one else has ever heard of it either) which made most reading feel like a relaxing day on the torture rack, with thoughts running the gamut from the inability to concentrate on a sentence to feeling unable to extract deeper meaning, and to reaching the conclusion that the world in all its simplicity and complexity is way too complicated for me to understand the way things run. Plus there was the nagging feeling that I'm not able to grasp or remember the totality of what I'm reading. That and the inability to make it known to those who wouldn't understand drove me further into it. Shall I leave unanswered the question of whether I used my scholarship in Portugal to the fullest?
Other neat psychological distortions are to be described in another joyous post.
One final thought, and it's about love. Two days ago, I was given a rotund all-around slap-around when I found out out of the blue that a close friend of mine had started to have feelings for me. This came out in a confrontation that I was expecting to be a series of complaints on how irresponsible I am as a friend who takes ages to answer a simple message and makes empty promises. Instead, I got a slice of another cake. I never did feel more than a strong bond of friendship between us, and never picked up on the waves she said she was sending. My waves she misinterpreted. This was the first situation of the kind in years, and I don't remember myself ever being the actual rejector. I didn't go through it like a smooth-talking Hugh Grant in another ho-hum rom-com. More like a one-eyed rhino stumbling in a drunken stupor through a corridor gallery of priceless china. But it did end positively, as I knew it would, and I don't expect any particular awkward situations in the future. Didn't help me being puzzled by my indifference and lack of any strong emotional reaction following the encounter. On the one hand, that could point towards a disconcerting lack of emotion. But since I'm no longer suicidal, I prefer to attribute it to something entirely different: adulthood.
Good or bad, it's a fact of life.
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